quinta-feira, julho 6

A questão das cotas

Desembarque de Escravos (RJ) - Desenho de Johann Moritz Rugendas

O site da Revista Espaço Acadêmico em novembro de 2002 apresentava um texto a favor das cotas para negros com a ilustração acima, meio fora do contexto. Melhor estaria no blog Borrocando.
Depois de apresentar um quadro contendo uma correlação entre as variáveis “Educação dos pais” e “Escolaridade média dos filhos”, conclui: "Em uma escola democrática as duas variáveis – a) escolaridade dos pais e b) escolaridade dos filhos – não devem apresentar correlação, uma vez que por mais desiguais que sejam as crianças, do ponto de vista de sua origem social, cultural e econômica, a educação escolar conseguiria neutralizar as diferenças iniciais dando uma formação adequada para os educandos. As cotas para alunos negros nas universidades públicas podem compor um conjunto de medidas práticas, efetivas e imediatas que apontem para o fim das desigualdades raciais na sociedade brasileira. As políticas públicas em favor do igualitarismo social e econômico, que visam a atender a todos os excluídos de forma universalista, não podem servir mais para dissimular a irresponsabilidade em relação ao combate às formas de discriminação que não se fundam só no econômico, como é o caso da discriminação contra mulheres, homossexuais, deficientes físicos, índios e negros."

Não se trata de correlação entre a escolaridade dos pais e a dos filhos. Acho que um pai, uma mãe comendo a um real ou recebendo o bolsa-miséria, não há filho que tenha bom aproveitamento. E se não tem bom aproveitamento, vai fazer na universidade, o quê?

No blog do Reinaldo Azevedo fala-se de duas pesquisas: uma, que o Tarso Genro escamoteou em março de 2005 e outra produzida para conquistar a opinião pública."As duas pesquisas, tanto aquela combatida pelo MEC como esta agora usada pelo próprio ministério para se justificar, dão conta da grande farsa que é a imposição de cotas nas universidades brasileiras. Há um problema de mérito, de fundo, já dito tantas vezes, mas que não me furtarei a dizer outra vez: universidade é lugar de produção de conhecimento, de ciência, não de fazer justiça social, que tem de ser alcançada no ensino fundamental e médio, que está na penúria.
Mais: para impor o modelo, o MEC obriga as universidades a fraudar a Constituição, tratando desigualmente os cidadãos. Pior do que tudo isso: tenta-se impor a medida ao arrepio de qualquer número ou dado objetivo, mesmo aqueles que o governo teria para se defender."

É justamente isso que diz Cristovam Buarque. "A solução para a educação básica é muito maior do que qualquer medida, não basta a federalização. Mas ela representa, em primeiro lugar, um ato de justiça, porque federalizamos o que interessa à parte rica da sociedade, como a educação superior, a educação técnica para servir às indústrias, a educação no Distrito Federal, a educação privada – que é paga em parte com dinheiro federal, retirado do Imposto de Renda –, mas deixamos a educação fundamental entregue à pobreza do município, e o ensino médio entregue à vontade do governador. Os estados e municípios ricos, com prefeitos e governadores que tenham boa vontade, fazem boa educação; os pobres, uma educação pobre. E o Brasil vai ficando cada vez mais desigual, porque o berço da desigualdade está na escola.
Com a federalização, mantendo a descentralização administrativa, a criança passa a ser uma preocupação nacional, assim como a educação delas."

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