segunda-feira, julho 3

Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar

Muito cedo, naquela manhã de 24 de agosto de 1954, o diretor do colégio entrou na sala para anunciar a suspensão das aulas daquele dia. O excelentíssimo Sr. Presidente da República, Getúlio Vargas, havia dado um tiro no peito. A única resposta que pude vislumbrar nas faces daqueles moleques de 14 anos, entre os quais me incluía, foi a de satisfação por um dia de aula a menos. Hoje a garotada de 16 anos vota não sei sob qual alegação. Não deve haver grande diferença na mentalidade dos 14 aos 16 anos.
A revista de grande sucesso na época era "O Cruzeiro", que cobria desde os badalados concursos de misses, passando pelo carnaval, até as grandes tragédias. E eu via ali as fotos do Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente, do Climério Euribes de Almeida, suposto matador do tenente Vaz, da Aeronáutica, e de Alcino João Nascimento, que depois confessou ter matado o tenente. Os dois primeiros foram assassinados na prisão - já havia queima de arquivo naqueles tempos. Alcino conseguiu sobreviver. Mas eu, evidentemente, era um mero expectador, sem condições de fazer qualquer juízo.

Na última semana alguém me falou que todo esse episódio foi uma farsa. Lacerda atirara no major e no próprio pé. Nunca ouvi falar tal coisa, mas encontrei um relato na Hora do Povo. Alcino confessou ter dado dois tiros no peito do major e disse antes ter ouvido tiros e um zumbido de bala perto de sua cabeça. O major Vaz levara um tiro nas costas. O corpo nunca foi submetido à necrópsia: os golpistas não permitiram. Lacerda recusou-se a entregar seu revólver à perícia. Tudo estava controlado por lacerdistas na base aérea do Galeão, também conhecida como república do Galeão.

Getúlio, embora seja o suicida mais conhecido da história do Brasil, ora é execrado, ora é idolatrado. Fernando Henrique Cardoso, antes mesmo de assumir seu primeiro mandato, prometeu enterrar a era Vargas. E, aqui, estamos entrando num texto do Centro de Mídia
Independente
. "Não é aqui o lugar adequado para fazer a psicanálise dessa volúpia anti-varguista de FHC, mas este, em 1965, segundo o escritor Arisvaldo Figueiredo, não compareceu ao enterro do pai, Leônidas Cardoso, general e deputado pelo PTB (1955-1959), defensor nacionalista da Petrobrás. Os professores e estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, o ponto de partida da carreira de FHC, não sabiam dessa ascendência paterna getuliana porque o filho fez questão de ocultá-la. Gondin da Fonseca, escritor genial, corajoso, dizia que Carlos Lacerda escolheu como inimigo Vargas a partir de 1947, 'odiava Getúlio e invejava-o, porque para o seu inconsciente, Getúlio era o pai vitorioso e nunca existiu no mundo quem mais detestasse o pai - Maurício de Lacerda - do que esse pobre, desorientado rapaz'. O pai de Carlos Lacerda era comunista, assim como o pai de FHC era nacionalista."

Muito embora tanto FHC quanto Lula tivessem por objetivo destruir tudo quando Getúlio construiu, Lula apresenta uma sutil diferença: gosta de ser "o pai dos pobres", como era conhecido o velho caudilho, e gosta também de sujar as mãos de petróleo. Enfim, quer imitar Getúlio apesar de não gostar dele. Todas as conquistas dos trabalhadores dadas por Getúlio, muitas estão agora ameaçadas por quem se diz trabalhador. E se o "trabalhador", como gosta de dizer, governa de maneira tão maravilhosa este país, melhor que qualquer um nestes longos 500 anos (ele é quem diz), e se é tão eficiente quanto era como torneiro mecânico, não sei não, estamos arriscados a perder mais que os dedos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e