quarta-feira, julho 26

O animal político

Já li sobre vários animais políticos. Mário Soares, de Portugal, seria um deles. Jacques Chirac, da França, o outro, aliás, em extinção. Não me perguntem porque. Isso eu li. E sei que sou também um animal político. Não estou dizendo que entendo de política ou que exerceria um cargo político. Acho que engolir sapos não é o meu forte, se bem que há políticos que engolem até a alma. A quem se classifica de ladrão hoje, amanhã poderá ser um grande aliado, um grande amigo. Dizem que há um comodismo do brasileiro e a mania de não se envolver em política. Mas deve-se lembrar que o grande castigo de quem não gosta de política, é ser governado pelos que gostam. O brasileiro gosta de ser enganado, de acreditar em grandes promessas. Moreira Franco prometeu, certa vez, acabar com a violência em seis meses. Também prometeu construir novos Cieps. Votaram nele. O que fez? Vários Cieps que estavam em construção foram criminosamente abandonados. Várias crianças que poderiam ali empregar seu tempo foram para a escola da violência nas ruas.
Veio o Collor com a história de caçador de marajás. Assim que assumiu tratou de confiscar o dinheiro da população e mandou demitir vários empregados de estatais, gente da classe média. Ninguém é besta de mexer com marajá. Tentei demover algumas pessoas de votar nele. Não consegui. Depois veio outro enganador, Fernando Henrique Cardoso. Também tomei minha posição. As pessoas continuaram preferindo o caminho da ilusão. Mas o problema é bem maior. Diz o site do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro sobre o voto do eleitor analfabeto: "Este voto é facultativo. Entretanto, o eleitor analfabeto que deseja votar também tem esse ato facilitado pois, na maioria dos casos, conhece números. Ele faz ligações telefônicas de telefones públicos cujo teclado é igual ao da urna eletrônica. Para confirmar ou corrigir o voto, ele poderá identificar as teclas através das cores." Não se questiona o fato do analfabeto não saber distinguir entre um parlamentar sério e um canalha. Se ele não é daltônico, sabe identificar as teclas através das cores ou sabe telefonar, também sabe votar, ou seja, pode servir de massa de manobra. A essa legião de desinformados vem se juntar os jovens a partir de 16 anos. Até os 18 anos seu voto também é facultativo. Esses jovens, até há algum tempo, acreditavam em Papai Noel. Quais serão seus valores agora?
Há diversos paradigmas para se escolher um bom candidato. Um deles é a questão religiosa. Um homem de Deus é uma pessoa confiável, não é, bispo Rodrigues? Quantos pastores não estão por aí enrolados no mensalão e na CPI dos sanguessugas? Agora até a Igreja Universal adotou um partido político, onde pontificam o bispo Crivella e o vice do Lula, José Alencar. Eu preferia aquele da Iracema, a virgem dos lábios de mel e de cabelos tão escuros como a asa da graúna. "Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração. Porém, vós a tendes transformado em covil de ladrões" (Mateus, XXI; 12 e 13). Isto é a respeito dos vendilhões do templo e dos falsos profetas modernos.
O outro paradigma é a mulher, um ser maravilhoso, afável, bondoso, criterioso. Noutro dia, alguém que vai votar numa mulher, justificou: - "Você não sabe o que é a cabeça de uma mulher!" Eu respondi que sabia: servia para dançar a melô do mensalão, não é, Ângela Guadagnin?, e servia também para tentar livrar a cara dos "companheiros" enrolados na CPI do mensalão, não é, Ideli Salvatti?
Não é o fato de ser mulher, ou ser religioso, ou ser negro que dá competência a alguém para ser um bom político. Seria mais uma questão de caráter. Após um discurso em que Sarney dizia que o PMDB deverá dar sustentação ao novo governo (Lula reeleito), Pedro Simon (PMDB-RS), perdeu a paciência e disse: "É triste esse papel do Sarney. Infelizmente ele serve a qualquer governo e tem os cargos que quer". Sarney sabe dobrar a espinha, é um grande patriota, nunca está contra o governo.
E o Lula? Quem sabe da vida dele é o Cesar Benjamin, o Cesinha. Lula, certa inesquecível vez, lhe disse: “Cesinha, sabe quem me ligou nesses dias? O Alberico, da Globo. Jantei com eles anteontem. Derrubamos quatro litros de uísque. Eu pedi que não se preocupassem, que estava tudo bem entre nós. Não vou brigar com a Globo, não é, Cesinha?”
Agora Lula vai prometer fazer o que não fez nas outras promessas. Estou começando a organizar uma lista, que não é a de Schindler. Deverá ter mais de 300 nomes. Vou distribuir entre eles uma edição ampliada do presente artigo. Espero que me compreendam. De qualquer maneira continuarei no meu ramo de secos e molhados.

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