quarta-feira, agosto 16

Sobre mensaleiros e sanguessugas

Marx tinha razão

A idéia do título acima me ocorreu hoje, mas logo verifiquei que já tinha sido desenvolvida por Luis Fernando Verissimo a 26 de outubro de 2003. Vou apenas acrescentar esta observação face aos escândalos recentes patrocinados por mensaleiros, sanguessugas, saúvas e sabe-se lá que novas espécimes da fauna do homo corruptus. O caso é que o clube está aceitando qualquer sócio e os sócios não fazem questão de saber onde estão entrando.

Fico cada vez mais marxista. Acho que há uma frase do Groucho Marx adaptável a qualquer situação. Lula fez mal em não lembrar a mais famosa delas, ao tomar posse. Groucho disse que se recusava a ser sócio de um clube que aceitava gente como ele. Lula deveria ter desconfiado do fato de o clube aceitar sua eleição: ou o clube pretendia mudar, ou esperava que ele mudasse. Lula mudou para poder freqüentar o clube, o clube ainda não mudou muito.
Tudo porque Lula não leu o seu Marx adequadamente. O fato de não ter sido barrado já deveria tê-lo alertado de que o clube não era para gente como ele.

Outra frase de Groucho se adapta à situação econômica. Groucho como médico, olhando seu relógio e tirando o pulso de um paciente: “Ou este homem está morto ou o meu relógio parou.”
O grande debate sobre economias em subdesenvolvimento na América Latina, 20 anos depois que a doutrina de segurança continental dos generais neopaleolíticos foi substituída pela doutrina neoliberal dos economistas neoclássicos, é mais ou menos o mesmo: foi a doutrina que não funcionou no continente, onde em 20 anos a desigualdade só aumentou, ou foi o continente que decepcionou uma doutrina perfeitamente aceitável, tanto que, no Brasil, ela continua em vigor? Aqui, o clube resolveu o debate de maneira original, ao manter o modelo liberal: reconheceram que o paciente está morrendo e, para reanimá-lo, dão corda no relógio.

Também há marxismos para a atualidade internacional. Groucho como general, cercado por generais, diante de um mapa de campanha: “Uma criança de 3 anos entenderia isto.” E depois de uma pausa: “Chamem uma criança de 3 anos, rápido.” Uma criança de 3 anos teria dito ao Bush que a invasão do Iraque daria nesse atoladouro. Faltou uma criança de 3 anos entre os seus conselheiros neoconservadores e neofalcões. O secretário de Defesa Rumsfeld finalmente entendeu isto, e o seu memorando interno para o Pentágono é, em resumo, um apelo tardio pela criança de 3 anos. Tudo porque as pessoas não lêem Marx, ou lêem o Marx errado.

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