terça-feira, agosto 1

Por mares nunca dantes navegados

Além da Taprobana

As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino , que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte .
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano ,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Os Lusíadas (I, 1-3)

Não poderia prever Camões que eu, um dia, pelas águas da internet, navegaria muito além da Taprobana e chegaria a mares nunca dantes navegados e atracaria em portos não muito seguros. Atraquei hoje numa página chamada DHNET (direitos humanos). Os direitos humanos me parecem direcionados a quem não deveria ter direito algum ao contrário de suas vítimas - esses não têm direito a nada mesmo. E vi um artigo que me chamou a atenção tanto pelo assunto de que tratava quanto pela pessoa que o assinava: Nilmário Miranda, candidato a governador de Minas Gerais com a maior taxa de rejeição (25%), ou seja, aquele em quem os eleitores não votariam de jeito nenhum. E o título do artigo era: "Por que dizer não à redução da Idade Penal?". O comentário inicial dizia que rebaixar a idade penal para 16, 14 ou mesmo 12 anos conduziria aos tempos de Herodes e se faria então uma limpeza étnica nos nascidos pobres, favelados, negros, enfim, a minoria excluída. Vejam vocês, há pessoas que raciocinam pelo absurdo. O artigo termina assim: "O que precisamos, na verdade, é de um pacto ético entre a sociedade brasileira, para efetivamente implantarmos medidas sócio-educativas com a participação da sociedade civil e dos cidadãos, com todas as instituições, cada uma cumprindo a sua parte e não se omitindo. É evidente que a questão, assim, não reside na imputabilidade, mas na implementação de medidas sócio-educativas."

Eu não entendi nada. Me parece aquele deputado do programa de TV "A praça é nossa", o João Plenário - ele fala com o propósito de não ser entendido por ninguém. Quem quiser, leia Redução da idade penal.

Mas nem tudo é como a gente pensa ou quer. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta. Dentre os inúmeros elogios que Nilmário dispensou a Newton Cardoso destaco este: “Não fazemos acordo com a corrupção, com este governador antipopular. O senhor Newton Cardoso deve buscar pactuar com seus semelhantes na corrupção e na violência. Não temos nenhum ponto em comum com este prepotente, com essas dez arrobas de indignidade”.
É o trecho de discurso publicado no Diário do Legislativo em 24/8/89, na página 54, ao encaminhar pedido de impeachment do então governador Newton Cardoso à presidência da Mesa da Assembléia Legislativa de Minas.
Camões agora mandou Nilmário mudar de opinião; e ele já é aliado de Newton Cardoso que concorre a senador por Minas.

Nenhum comentário: