sábado, abril 15

O chefe e o chefão


O chefe e o chefão

Tribuna da Imprensa Sebastião Nery

Osvaldo Aranha foi ministro da Justiça (30 e 31), da Fazenda (31 a 34), do Exterior (38 a 44) e de novo da Fazenda (53 e 54) de Getulio Vargas. Como ministro da Justiça, logo depois da revolução de 30, foi visitar a Agência Nacional. O diretor tinha feito uma reforma e queria mostrar ao chefe:
- Senhor ministro, reorganizamos toda a Agência. Fizemos isso, aquilo.
- Muito bem. Muito bem.
E o diretor foi levando Osvaldo Aranha, com sua cabeleira gaúcha, quase dois metros de altura, os olhos grandes, luminosos, pelos corredores. Diante de uma porta, o diretor parou entusiasmado:
- Senhor ministro, aqui é a seção mais importante da Agência Nacional. É onde guardamos os recortes dos jornais que aproveitam as notícias que a Agência Nacional manda para o País inteiro.
- Sei, o arquivo.
Osvaldo Aranha
O diretor estava eufórico:
- Sim, senhor ministro, o arquivo. Aqui está a documentação da vida brasileira. Um dia, para ser escrita a história de hoje, é só vir aqui e ver o que o governo pensava e a Agência Nacional escrevia. Está tudo aqui. Aqui se faz a história. O senhor quer ver? É muito interessante.
O diretor empurrou a porta, acendeu a luz. Osvaldo Aranha entrou, o diretor atrás. No chão, por cima dos recortes, nus, um homem e uma mulher se amavam. Osvaldo Aranha apagou a luz, fechou a porta:
- Realmente, senhor diretor, esta é a seção mais importante. Faz a história e a vida no escuro.
Lula
O Procurador-Geral da República, Antonio Fernando de Souza (o Brasil não vai esquecer esse bravo e indobrável nome), abriu a sala escura do governo Lula e encontrou lá dentro, nus, o "chefe da quadrilha, da organização criminosa", José Dirceu, os chefetes Gushiken, Genoino, Delubio, Silvio Pereira, e mais 36 chefiados. Estavam fazendo a vida e a história no escuro.
Na história da criminalidade universal, da máfia siciliana ao tráfico de drogas na favela, da Cosa Nostra de Palermo a Medelín na Colômbia, e ao Borel, ao Vidigal, à Rocinha, às favelas mil do Rio, São Paulo, Minas, não há chefetes sem chefe, nem chefe sem chefão. O Ministério Público, verdadeiro, irrespondível, devastador, já chegou ao chefe, Dirceu. Só falta agora o chefão.
Lula talvez ainda fique algum tempo dizendo ridiculamente que não viu, não soube, não lhe contaram, é um traído com faca nas costas. Até que um dia alguém empurre uma porta e encontre, nu, no final da história, o chefão.
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