Reclame com o bispo
Muito charmosa a propaganda que o TSE faz no rádio. Na televisão não vi, se é que existe. Deve ser horário pago. O eleitor diz que existe. Falo, logo existo. E diz que não vai votar nulo. Até aí concordo. E diz que vai cobrar do seu candidato tudo que está escrito no seu programa de governo. Aí discordo. Você está fazendo papel de bôbo. Melhor seria cobrar do bispo. Seu candidato está se lixando pra você. Olha aí o Collor - se elegeu e confiscou o rico dinheirinho dos eleitores. Você vai cobrar de quem mesmo?
Aviso aos pobres que vão votar no Lula: A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu estou blindado. Eu sou pobre mas não muito. Tenho para onde correr, tenho alguns "privilégios". Vocês só têm o bispo para ouvir sua história.
sexta-feira, outubro 27
quarta-feira, outubro 18
Uma nação à procura do seu destino
O mal existe?
Não é difícil escrever um artigo para um blog, pelo menos igual ao meu. Não sou filósofo, nem jornalista, nem cientista político, apenas um observador e me basta uma breve conversa com qualquer pessoa para saber para onde a nação caminha.
É como eu li hoje: extorsão, mensalão, dinheiro na cueca, sanguessugas, cartilhas, dossiês... É como se ninguém fosse responsável por nada. O crime existe, até se admite, o criminoso é uma figura de retórica. Sem falar dos cadáveres que ficaram pelo caminho.
Quase sempre termino uma conversa perguntando pelas eleições.
- E aí, como vai ser no segundo turno?
- É, vou ficar no barbudinho mesmo, respondeu o rapaz.
- E você vai dar respaldo à essa grande trapalhada, a essa derrama de dinheiro público, vai deixar essa quadrilha se perpetuar no poder? (Instalados eles já estão).
- Mas todo mundo faz igual. Em todo lugar se rouba.
E para fazer um paralelo me contou uma história escabrosa de um parente seu lotado num quartel da polícia militar e que estava doido para sair de lá, estava apavorado mesmo. Acontece que o padrão de comportamento ali é tal que se alguém não se envolver nas mesmas transgressões corre grave perigo. Pode até mesmo ser atingido por uma bala num tiroteio com bandidos, entenderam?
A que ponto chegamos. Uma história desta para desculpar um voto. A desonestidade está mesmo ficando banalizada. Maquiavel está na moda. Os fins justificam os meios.
Não é difícil escrever um artigo para um blog, pelo menos igual ao meu. Não sou filósofo, nem jornalista, nem cientista político, apenas um observador e me basta uma breve conversa com qualquer pessoa para saber para onde a nação caminha.
É como eu li hoje: extorsão, mensalão, dinheiro na cueca, sanguessugas, cartilhas, dossiês... É como se ninguém fosse responsável por nada. O crime existe, até se admite, o criminoso é uma figura de retórica. Sem falar dos cadáveres que ficaram pelo caminho.
Quase sempre termino uma conversa perguntando pelas eleições.
- E aí, como vai ser no segundo turno?
- É, vou ficar no barbudinho mesmo, respondeu o rapaz.
- E você vai dar respaldo à essa grande trapalhada, a essa derrama de dinheiro público, vai deixar essa quadrilha se perpetuar no poder? (Instalados eles já estão).
- Mas todo mundo faz igual. Em todo lugar se rouba.
E para fazer um paralelo me contou uma história escabrosa de um parente seu lotado num quartel da polícia militar e que estava doido para sair de lá, estava apavorado mesmo. Acontece que o padrão de comportamento ali é tal que se alguém não se envolver nas mesmas transgressões corre grave perigo. Pode até mesmo ser atingido por uma bala num tiroteio com bandidos, entenderam?
A que ponto chegamos. Uma história desta para desculpar um voto. A desonestidade está mesmo ficando banalizada. Maquiavel está na moda. Os fins justificam os meios.
terça-feira, outubro 17
Berzoini depõe
Berzoini nega envolvimento no dossiê
O deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, negou em depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira (17) participação na transação que levou à compra do dossiê que incriminaria políticos do PSDB com a máfia das ambulâncias.
O delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito, considerou que houve contradições em relação ao depoimento de Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercandante ao governo de São Paulo.
O ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina, Lorenzetti é apontado como um dos negociadores dos documentos que estavam em posse do empresário Luiz Antonio Vedoin, acusado de chefiar a máfia das ambulâncias.
Em seu depoimento à PF, Lorenzetti disse que Berzoini sabia que haveria uma negociação em torno de um dossiê, mas negou que o ex-dirigente tivesse conhecimento de que havia dinheiro envolvido.
Necessàriamente não precisa haver dinheiro envolvido em uma negociação. Quem sabe o fornecedor do dossiê é um colecionador de figurinhas de jogadores da Copa do Mundo?
O deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, negou em depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira (17) participação na transação que levou à compra do dossiê que incriminaria políticos do PSDB com a máfia das ambulâncias.
O delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito, considerou que houve contradições em relação ao depoimento de Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercandante ao governo de São Paulo.
O ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina, Lorenzetti é apontado como um dos negociadores dos documentos que estavam em posse do empresário Luiz Antonio Vedoin, acusado de chefiar a máfia das ambulâncias.
Em seu depoimento à PF, Lorenzetti disse que Berzoini sabia que haveria uma negociação em torno de um dossiê, mas negou que o ex-dirigente tivesse conhecimento de que havia dinheiro envolvido.
Necessàriamente não precisa haver dinheiro envolvido em uma negociação. Quem sabe o fornecedor do dossiê é um colecionador de figurinhas de jogadores da Copa do Mundo?
segunda-feira, outubro 16
O golpe do leite
Vota em mim ou bebe água?
Havia, no tempo do ticket de leite, um vereador conhecido meu que dizia na cara dura aos eleitores-clientes: - "Não votou em mim, vai beber água"!
Contei isso a uma senhora de mais de setenta anos que vai votar nulo. Ela perguntou: - Como ele sabia quem votava nele ou não?
- Ora, isso é fácil, minha senhora. Ele anota os nomes e as seções de votação. Se houver um número de votos naquela seção inferior a um número razoável ele penaliza toda a seção. Todos bebendo água. Ninguém iria se arriscar a perder o leitinho das crianças. Aliás, a senhora, com a sua idade, não precisa mais votar.
- Não voto em safado nenhum, mas faço questão de ir lá e votar nulo.
Tenho doze dias para convencê-la, já que ela quer votar, a fazer algo de útil lá na cabine eleitoral.
Atualmente não existe mais o ticket de leite nem se fazem ameaças veladas ao eleitor. Há uma modalidade mais atraente e substancial: o bolsa-família. E pra que ameaçar o eleitor-cliente? Basta dizer que o adversário é mau e vai acabar com a bondade.
Havia, no tempo do ticket de leite, um vereador conhecido meu que dizia na cara dura aos eleitores-clientes: - "Não votou em mim, vai beber água"!
Contei isso a uma senhora de mais de setenta anos que vai votar nulo. Ela perguntou: - Como ele sabia quem votava nele ou não?
- Ora, isso é fácil, minha senhora. Ele anota os nomes e as seções de votação. Se houver um número de votos naquela seção inferior a um número razoável ele penaliza toda a seção. Todos bebendo água. Ninguém iria se arriscar a perder o leitinho das crianças. Aliás, a senhora, com a sua idade, não precisa mais votar.
- Não voto em safado nenhum, mas faço questão de ir lá e votar nulo.
Tenho doze dias para convencê-la, já que ela quer votar, a fazer algo de útil lá na cabine eleitoral.
Atualmente não existe mais o ticket de leite nem se fazem ameaças veladas ao eleitor. Há uma modalidade mais atraente e substancial: o bolsa-família. E pra que ameaçar o eleitor-cliente? Basta dizer que o adversário é mau e vai acabar com a bondade.
O governo Lula investiga
Coligação de Alckmin quer enquadrar Bastos
Ministro da Justiça é acusado de intervir nos trabalhos da PF para proteger Lula
Tribuna da Imprensa
Durante viagem ao interior do Ceará, onde visitou Quixadá e Crateús fazendo campanha para Geraldo Alckmin, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), informou que se reunirá hoje, em Brasília, com os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen, do PPS, Roberto Freire, e do PMDB, Michel Temer, para discutir reportagem da revista "Veja", na qual o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é acusado de intervir nos trabalhos da Polícia Federal para tentar proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT, no caso do episódio da compra do dossiê contra os tucanos.
"Vamos fazer uma reunião com os presidentes de partidos para deliberar sobre essa reportagem da revista Veja, que evidentemente traz à tona a manipulação que está sendo feita com a Polícia Federal, criminosamente, para esconder esse Freud Godoy das investigações", afirmou.
"Encobre um crime e destrói a Polícia Federal pelo ministro da Justiça no afã de esconder todas as maracutaias feitas pelo governo."
Considerando o episódio "um absurdo", Tasso lamentou o fato de o delegado que descobriu o dinheiro ser apontado por Bastos e pela PF como o único culpado. "Parece filme de terror da era do Stalin e nós não podemos ficar calados diante disso. Acho que os partidos políticos brasileiros precisam tomar uma atitude", conclamou.
Ministro da Justiça é acusado de intervir nos trabalhos da PF para proteger Lula
Tribuna da Imprensa
Durante viagem ao interior do Ceará, onde visitou Quixadá e Crateús fazendo campanha para Geraldo Alckmin, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), informou que se reunirá hoje, em Brasília, com os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen, do PPS, Roberto Freire, e do PMDB, Michel Temer, para discutir reportagem da revista "Veja", na qual o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é acusado de intervir nos trabalhos da Polícia Federal para tentar proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT, no caso do episódio da compra do dossiê contra os tucanos.
"Vamos fazer uma reunião com os presidentes de partidos para deliberar sobre essa reportagem da revista Veja, que evidentemente traz à tona a manipulação que está sendo feita com a Polícia Federal, criminosamente, para esconder esse Freud Godoy das investigações", afirmou.
"Encobre um crime e destrói a Polícia Federal pelo ministro da Justiça no afã de esconder todas as maracutaias feitas pelo governo."
Considerando o episódio "um absurdo", Tasso lamentou o fato de o delegado que descobriu o dinheiro ser apontado por Bastos e pela PF como o único culpado. "Parece filme de terror da era do Stalin e nós não podemos ficar calados diante disso. Acho que os partidos políticos brasileiros precisam tomar uma atitude", conclamou.
sábado, outubro 14
Maquiavel redivivo
A política como a arte da astúcia
Teria este texto sido apreciado por Lula? Não creio, pois ele já se declarou infenso à leitura. Seria, então ele, o próprio Nicoló Machiavelli redivivo?
Sequência da página Educação - História por Voltaire Schilling
Mas a pá de cal, a difamação definitiva da política - tornando-a quase maldita - ocorreu no Renascimento com Maquiavel. Ninguém até então a descrevera de uma forma tão ordinária e baixa como o florentino o fez. Reduziu-a a um astuto exercício de alcançar e manter-se no poder, caracterizando como modelo do político exemplar um ser meio homem meio animal (entre o leão e a raposa) , que , para atingir ou manter-se no leme do estado ele podia recorrer a qualquer tipo de prática (à fraude, à mentira, ao engano, à corrupção) porque todas, desde que utilizadas com eficácia, se justificavam pelo seu fim. Aquilo que parecia ao homem comum, ao cidadão íntegro, como desonesto e velhaco, recebeu da parte dele sanção e validade porque estava a serviço de algo superior que era o interesse da segurança do estado e da sociedade.
Desta forma, as imprecações que diariamente ouvem-se lançadas contra os políticos do nosso tempo nada mais são que ecos tardios desse antigo rancor provocado pelo desinteresse dos estóicos e dos cristãos pela política que se somam à inconveniência verbal de Maquiavel, contribuindo negativamente para que muita gente honesta e capaz se alienasse da coisa pública, e, pior, desacreditassem nos seus legítimos representantes dentro de uma ordem democrática.
Teria este texto sido apreciado por Lula? Não creio, pois ele já se declarou infenso à leitura. Seria, então ele, o próprio Nicoló Machiavelli redivivo?
Sequência da página Educação - História por Voltaire Schilling
Mas a pá de cal, a difamação definitiva da política - tornando-a quase maldita - ocorreu no Renascimento com Maquiavel. Ninguém até então a descrevera de uma forma tão ordinária e baixa como o florentino o fez. Reduziu-a a um astuto exercício de alcançar e manter-se no poder, caracterizando como modelo do político exemplar um ser meio homem meio animal (entre o leão e a raposa) , que , para atingir ou manter-se no leme do estado ele podia recorrer a qualquer tipo de prática (à fraude, à mentira, ao engano, à corrupção) porque todas, desde que utilizadas com eficácia, se justificavam pelo seu fim. Aquilo que parecia ao homem comum, ao cidadão íntegro, como desonesto e velhaco, recebeu da parte dele sanção e validade porque estava a serviço de algo superior que era o interesse da segurança do estado e da sociedade.
Desta forma, as imprecações que diariamente ouvem-se lançadas contra os políticos do nosso tempo nada mais são que ecos tardios desse antigo rancor provocado pelo desinteresse dos estóicos e dos cristãos pela política que se somam à inconveniência verbal de Maquiavel, contribuindo negativamente para que muita gente honesta e capaz se alienasse da coisa pública, e, pior, desacreditassem nos seus legítimos representantes dentro de uma ordem democrática.
Assuntos Pendentes
É possível o lançamento do blog Assuntos Pendentes. Assuntos abundam. O texto abaixo é um exemplo, só que terá que esperar até 2010 pela confirmação. As coisas não são assim tão simples. Muito será revelado no próximo dia 30, após o segundo turno. Mas os cientistas políticos, formados nas melhores ou piores universidades, devem saber o que estão dizendo. Se errarem não tem importância. Os juízes de futebol também erram um dia sim e outro também e nem por isso são penalizados. Vida que segue... até baterem com os Assuntos Pendentes.
PARTIDO SE PREPARA PARA TER CANDIDATO PRÓPRIO EM 2010
Em um dos cenários, o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), se filiaria ao PMDB para virar presidenciável com apoio do PT
Mariana Oliveira,
do G1
O PMDB deve ter candidato próprio à presidência em 2010, afirmam os analistas políticos consultados pelo G1 e esse nome pode ser o do atual governador de Minas (reeleito), Aécio Neves (PSDB).
Para o cientista político Gaudêncio Torquato, “não tem mais como o PMDB não sair com candidato próprio”. Ele acredita que deverá ocorrer uma grande disputa dentro do PSDB com vistas a 2010 entre José Serra, governador eleito de São Paulo, e Aécio Neves. Como resultado dessa disputa, Torquato prevê que Aécio poderá deixar o PSDB e se filiar ao PMDB para se tornar o candidato do partido.“
A banca paulista, de FHC, vai preferir Serra, e a mineira, vai preferir Aécio. No frigir dos ovos é possível que Serra tenha mais força. Se Serra ganhar, o Aécio sai do PSDB e poderá ser o candidato do PMDB, até apoiado pelo PT, quem sabe”, especula Torquato. Para o cientista político, Aécio é força decisiva no panorama nacional.
PARTIDO SE PREPARA PARA TER CANDIDATO PRÓPRIO EM 2010
Em um dos cenários, o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), se filiaria ao PMDB para virar presidenciável com apoio do PT
Mariana Oliveira,
do G1
O PMDB deve ter candidato próprio à presidência em 2010, afirmam os analistas políticos consultados pelo G1 e esse nome pode ser o do atual governador de Minas (reeleito), Aécio Neves (PSDB).
Para o cientista político Gaudêncio Torquato, “não tem mais como o PMDB não sair com candidato próprio”. Ele acredita que deverá ocorrer uma grande disputa dentro do PSDB com vistas a 2010 entre José Serra, governador eleito de São Paulo, e Aécio Neves. Como resultado dessa disputa, Torquato prevê que Aécio poderá deixar o PSDB e se filiar ao PMDB para se tornar o candidato do partido.“
A banca paulista, de FHC, vai preferir Serra, e a mineira, vai preferir Aécio. No frigir dos ovos é possível que Serra tenha mais força. Se Serra ganhar, o Aécio sai do PSDB e poderá ser o candidato do PMDB, até apoiado pelo PT, quem sabe”, especula Torquato. Para o cientista político, Aécio é força decisiva no panorama nacional.
segunda-feira, outubro 9
Entrevista de Reinaldo Azevedo
Jornalista chama Lula de extravagante e incompetente
Fernando Sampaio
Tribuna da Imprensa
Ao fazer um diagnóstico do governo Lula, Reinaldo Azevedo, jornalista, articulista político e autor do livro "Contra o consenso", não teve dúvidas: trata-se de uma gestão "extravagante na teoria e incompetente na prática". Tamanha violência crítica poder parecer estranho nestes tempos em que, por mais enfraquecido que estejam o PT e o governo, nada parecer grudar no presidente.
Reinaldo é responsável por um dos blogs de jornalismo político de maior audiência da internet. O www.reinaldoazevedo.com.br rivaliza em importância com o de Ricardo Noblat. Concordando ou não com o jornalista, é impossível ficar indiferente às suas posições.
Logo na abertura do blog, conceito do escritor austríaco Robert Musil, tirado de "O homem sem qualidades", alerta o leitor desavisado: "Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem".
Ex-editor da revista "Primeira Leitura", Reinaldo define Lula como "profundamente ignorante", mas "de uma inteligência política rara. É um líder da esquerda atrasada latino-americana, hábil o bastante para se fingir de democrata. E o PT é seu instrumento".
TRIBUNA DA IMPRENSA - O que é esta crise política?
REINALDO AZEVEDO - A crise que está instalada se dá entre os grupamentos políticos que acatam a democracia como valor universal e como prática inegociável, condição para governança, e aqueles que a têm como meio meramente tático. O PT não é e nunca foi um partido democrático. Sua famosa "democracia interna", que nunca foi nada mais do que um arremedo do velho bolchevismo, sempre disfarçou a vocação profundamente autoritária. O PT passou 22 anos sendo sistematicamente contrário a tudo o que os sucessivos governos, tão diferentes entre si, propunham. Teve a estupidez de se opor ao Plano Real, que pôs fim ao imposto inflacionário e deu um rumo ao País, a despeito dos problemas. Quando FHC foi reeleito, no 19º dia de seu segundo mandato, o agora ministro Tarso Genro escreveu um artigo cobrando a sua renúncia e pedindo a realização de eleições gerais.
É o mesmo que agora, ridiculamente, vem falar numa concertação política. Ora, quem quer fazer concertação? O partido que, há pouco mais de duas semanas, tentou dar um golpe nas eleições. É preciso chamar as coisas pelo nome. A armação do dossiê fajuto foi para desmoralizar José Serra. O que eles pensaram? "Lula está reeleito e precisa reformar o Brasil. Mas a oposição terá um líder, chamado Serra. Precisamos desmoralizá-lo". Foi uma tentativa de governar sem oposição, uma vez que o Congresso também está desmoralizado por sucessivos escândalos.
A crise se dá porque existe um partido que pretende dar um "by pass" na democracia. E isso precisa ser denunciado e evidenciado. O PT acha que o Congresso atrapalha, que a oposição atrapalha. É sua vocação totalitária ganhando dimensão prática. O partido inaugurou o presente eterno na política. Age como se não tivesse passado, história. Aliás, faz o mesmo com terceiros. Veja só: transformou-se ou numa máquina de emporcalhar reputações ou numa lavanderia de biografias. É o caso de Sarney, tornado um herói da resistência por Lula e seus homens da mala preta. Já FHC, um democrata, é transformado no grande satã.
E os escândalos? São resultado da impunidade?
É um quadro desolador, que vai minando a confiança nas instituições brasileiras. Por que existem os escândalos? Porque o PT precisa deles. Não é que precise deles para governar. Precisa para executar o seu projeto. Ora, se eles querem transformar o Congresso numa casa irrelevante, qual é o caminho mais curto? Fechá-lo. Ocorre que Lula ainda não é ditador. Então, não pode fazê-lo. Se não pode cercar com tanques o Legislativo, então o PT manda comprar. O escândalo do mensalão é isto: uma tentativa de eliminar um dos Poderes da República.
O terceiro Poder, que é o Judiciário, como vimos, já está politizado o bastante, sob os auspícios e o estímulo do Poder Executivo. Não custa lembrar que, até outro dia, o Supremo Tribunal Federal era presidido por um então declarado candidato a vice-presidente de Lula. A operação não saiu exatamente como eles queriam. Mas Nelson Jobim, que é de quem estamos falando, confirmada a reeleição de Lula, é candidato a suceder Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. É vergonhoso.
Defina o PT e seu papel nesta crise.
Acho que já o caracterizei até aqui. O PT é um partido de esquerda e, pois, autoritário. Esquerda democrática é uma ficção inventada por alguns espertinhos para pegar trouxa. Qual é a essência de um partido de esquerda? Achar que tem a chave do futuro e que todos aqueles que se opõem a seu projeto são passadistas, reacionários, descartáveis, não entendem o sentido da evolução da história e da humanidade. Isso não sou eu que digo. É teoria política escrita.
Gramsci, o teórico comunista italiano, num estudo que fez sobre Maquiavel, que está em "Cadernos do Cárcere", dizia que o príncipe atual, o "Moderno Príncipe", não é um homem, é o partido. O PT é gramsciano. Ele se quer este ente de razão que tudo pode, tudo sabe e tudo coordena. Gramsci dizia que o Moderno Príncipe haveria de subverter todos os princípios. E que tudo na sociedade se faria contra ou a favor o partido, de sorte que ele fosse um novo imperativo categórico.
De certo modo, estamos experimentando isso. A política brasileira passou a ter um único eixo: o PT. Há lideranças regionais aqui e ali, mas são marginais. As únicas forças que ainda resistem, e mal, porque fazem má política, são o PSDB e o PFL. Mas os dois partidos têm o terrível vício de subestimar o PT. O PFL porque não tem a devida unidade e ainda tem muitos caciques regionais. O PSDB por conta de uma certa soberba intelectual.
Então acontece o quê? O PT vai falando sozinho e ditando o ritmo e o rumo dos acontecimentos, embora tenha feito o governo mais corrupto de que se tem notícia. Quando se fala isso, eles perguntam: "qual o critério de comparação?" Qualquer um que se queira: quantidade de escândalos, valor envolvido nas tramóias e comprometimento das instituições com a lambança.
O PT tentou comprar uma fatia do Congresso. Isso não é pouca coisa. Comprar mesmo, com grana. Nem era aquela prática antiga, de trocar cargo por apoio. Isso é mais ou menos corriqueiro nas democracias do mundo. Pode-se fazê-lo com ou sem acordos programáticos, de princípio. Mesmo que seja um mero arranjo de circunstância, não se trata de um crime. Já pagar um deputado ou um senador em dinheiro vivo para obter apoio ou vantagem é crime. E muito grave.
E o governo Lula? Defina-o.
É um governo extravagante na teoria e incompetente na prática. O governo Lula conseguiu juntar o autoritarismo da esquerda com ortodoxia econômica sem imaginação. E deu nessa porcaria que aí está. Mesmo com a economia mundial vivendo um ciclo único no pós-guerra, de estabilidade duradoura, o País terá um crescimento médio, ao longo de quatro anos, de uns 2,8%, talvez menos. Com FHC, ao longo de oito, crescemos 2,33%, a despeito de sete crises, cinco delas com potencial para derrubar governos. Cadê o Lula virtuoso?
Não obstante, o País continua pagando juros reais escandalosos. Os juros reais nos EUA ou na União Européia não chegam a 1%. Aqui, chegam a quase 11%. É um escândalo. Em 2002, o País exportava a metade, o risco soberano era oito vezes maior, tínhamos problema de liquidez externa, e os juros reais eram de 11,2%.
Como pode isso? Pode! Lula amarrou-se ao setor financeiro, prometeu ser fiel a seus princípios e, com isso, conseguiu o apoio de partidos conservadores, de alguns usurpadores do liberalismo. O liberalismo brasileiro foi seqüestrado pelo financismo. É um governo conduzido por idiotas de esquerda, apoiados por idiotas de direita. Tanto uns quanto os outros estão atrás de benefícios por desapego a seus respectivos princípios. Uns querem poder, sempre mais, e outros, ganhar dinheiro. Uns rifam a sua ideologia para ter apoio dos antigos inimigos, e os antigos inimigos chamam de pragmatismo o que não passa de uma mera operação financeira.
Por que não apoiar Lula? Os títulos da dívida pública na sua mão rendem uma enormidade.
Esse mesmo governo que condena o País ao baixo crescimento e, portanto, à reprodução do ciclo da miséria, é o que transformou os programas assistencialistas que já havia numa monumental máquina eleitoral. Basta olhar a distribuição dos votos de Lula. Ele só ganha em dois cortes: Nordeste e entre os que têm rendimento de até dois salários mínimos. Quer dizer que é um governo dos pobres? Não! É um governo do "pobrismo", que é coisa bem diferente. Lula está cevando alguns milhões de cativos, que ficarão dependentes dos programas erroneamente chamados de "distribuição de renda". Não se distribui nada. Veja o que aconteceu com os salários médios no Brasil ao longo desses quatro anos. Foram achatados. Numa economia que cresce pouco, a classe média paga o pato, ameaçada pelo desemprego e pela substituição da mão-de-obra por quem ganha menos.
O que se chama de diminuição da desigualdade no Brasil é o empobrecimento da classe média, que perdeu qualquer chance de fazer uma poupança mínima ou de planejar o seu futuro. E o governo pega parte do que arrecada com sua carga tributária estúpida e converte em doação, sem contrapartida, aos muito pobres, em troca da fidelidade eleitoral. Quem está com fome quer comida? Quer. Mas há modos e modos de fazê-lo. Lula está transformando as potencialidades futuras do Brasil em consumo presente - se me permitem, o futuro do Brasil está virando cocô. Se esses pobres estivessem sendo capacitados para andar pelas próprias pernas, vá lá. Mas continuarão a compor a romaria de famélicos do ministro Patrus Ananias.
O Congresso naturalmente foi afetado, o que vem por aí?
Tivemos a pior legislatura da história, e, potencialmente, o que vem por aí não é muito melhor do ponto de vista da qualidade dos representantes. Há algumas leis moralizadoras, é verdade, como a que coíbe pagamento de extras na convocação extraordinária, a que institui o voto aberto para cassações - atenção: sou favorável ao voto aberto só nesse caso; nos demais, seria jogar o Legislativo no colo do Executivo. Uma reforma política que instituísse a fidelidade partidária e o voto distrital misto contribuiria para melhorar o Congresso. Mas que se destaque: o Executivo é muito forte no Brasil. Se ele se mostrar disposto a comprar, sempre vai haver alguém disposto a vender.
O presidente da OAB, Roberto Busato, diz que falta ética no Brasil. Falta?
Não é só ele que diz, não é? As pessoas falam em ética sem conceituá-la. O que é ética? É um conjunto de valores que diz respeito a uma coletividade, que é partilhado por um conjunto de pessoas, à diferença da moral, que é individual. Cada indivíduo tem a sua moralidade. Ora, é claro que os valores coletivos, que organizam a vida social e política, estão em crise no Brasil.
E se trata de uma crise particularmente grave porque liderada pelo partido que se dizia a encarnação da ética na política. Sempre que alguém vem com esse papo pra cima de mim, dou um jeito de escapar. "Ética na política" quer dizer exatamente o quê? Quem estabeleceu o tal valor como norma, como diretriz? A ética do PT não me interessa. Mas é a que eles têm a oferecer. Quando Marilena Chauí ou Wanderley Guilherme dos Santos deliram afirmando que há uma tentativa de golpe no Brasil, estão tentando nos impor a sua "ética". Eles querem dizer o seguinte: tudo o que não serve ao poder petista é potencial e realmente ruim; é contrário à ética.
Temos uma crise de valores. Ela é ética? Acho que sim. Mas de qual ética estamos falando? Aquela que, entendo, deve servir a um Estado liberal e democrático. O petismo, por exemplo, não vive crise ética nenhuma. Eles são assim mesmo.
Dá para alertar a sociedade para que não fiquemos chocados depois?
Muito simples. Votar sempre contra o PT e seus aliados, objetivos ou subjetivos.
Quais medidas deveriam ser postas em prática para coibir esse estado de coisas?
Reforma política: fidelidade partidária, voto distrital misto, fim das emendas individuais ao Orçamento; reforma administrativa: redução drástica dos cargos de confiança; fim da estabilidade do funcionalismo;reforma econômica: privatização de todas - note bem e escreva em caixa alta: DE TODAS - as estatais. Elas são a verdadeira fonte da corrupção no País; instituição do pregão eletrônico para compras do governo.
Como destrinchar as relações PT e o presidente Lula?
Não há o que destrinchar. Eles são uma coisa só. O fato de o eleitorado de Lula ser maior do que o do PT não quer dizer nada. Ele não existe sem o partido e vice-versa. É uma tolice imaginar que Lula é um ingênuo assombrado por bolcheviques meio malucos. Lula é profundamente ignorante, mas é de uma inteligência política rara. Ele é o representante do Foro de São Paulo, de que é fundador, no Brasil. É um líder da esquerda atrasada latino-americana, hábil o bastante pra se fingir de democrata. E o PT é seu instrumento.
Como o senhor define esse "dossiêgate" e seus atores?
Já defini. Foi uma tentativa de dar um golpe nas eleições.
E a Polícia Federal como um dos carros-chefe do marketing lulista? Como explicar isso?
Você usou a palavra certa. A parte da PF que Márcio Thomaz Bastos comanda se especializou em ameaçar donos de cervejaria e donas de butique. Foi uma forma de dizer que os ricos também arcam com o peso da lei no País. Houve arbitrariedade naquele espetáculo todo que foi promovido para encantar a mídia. Era coisa séria? Se fosse, Bastos teria ele mesmo divulgado as imagens da dinheirama do caso do dossiê fajuto. Não teria de ser furado por um jornal, como foi. O ministro da Justiça pôs uma instituição do Estado a serviço de um projeto político.
Fernando Sampaio
Tribuna da Imprensa
Ao fazer um diagnóstico do governo Lula, Reinaldo Azevedo, jornalista, articulista político e autor do livro "Contra o consenso", não teve dúvidas: trata-se de uma gestão "extravagante na teoria e incompetente na prática". Tamanha violência crítica poder parecer estranho nestes tempos em que, por mais enfraquecido que estejam o PT e o governo, nada parecer grudar no presidente.
Reinaldo é responsável por um dos blogs de jornalismo político de maior audiência da internet. O www.reinaldoazevedo.com.br rivaliza em importância com o de Ricardo Noblat. Concordando ou não com o jornalista, é impossível ficar indiferente às suas posições.
Logo na abertura do blog, conceito do escritor austríaco Robert Musil, tirado de "O homem sem qualidades", alerta o leitor desavisado: "Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem".
Ex-editor da revista "Primeira Leitura", Reinaldo define Lula como "profundamente ignorante", mas "de uma inteligência política rara. É um líder da esquerda atrasada latino-americana, hábil o bastante para se fingir de democrata. E o PT é seu instrumento".
TRIBUNA DA IMPRENSA - O que é esta crise política?
REINALDO AZEVEDO - A crise que está instalada se dá entre os grupamentos políticos que acatam a democracia como valor universal e como prática inegociável, condição para governança, e aqueles que a têm como meio meramente tático. O PT não é e nunca foi um partido democrático. Sua famosa "democracia interna", que nunca foi nada mais do que um arremedo do velho bolchevismo, sempre disfarçou a vocação profundamente autoritária. O PT passou 22 anos sendo sistematicamente contrário a tudo o que os sucessivos governos, tão diferentes entre si, propunham. Teve a estupidez de se opor ao Plano Real, que pôs fim ao imposto inflacionário e deu um rumo ao País, a despeito dos problemas. Quando FHC foi reeleito, no 19º dia de seu segundo mandato, o agora ministro Tarso Genro escreveu um artigo cobrando a sua renúncia e pedindo a realização de eleições gerais.
É o mesmo que agora, ridiculamente, vem falar numa concertação política. Ora, quem quer fazer concertação? O partido que, há pouco mais de duas semanas, tentou dar um golpe nas eleições. É preciso chamar as coisas pelo nome. A armação do dossiê fajuto foi para desmoralizar José Serra. O que eles pensaram? "Lula está reeleito e precisa reformar o Brasil. Mas a oposição terá um líder, chamado Serra. Precisamos desmoralizá-lo". Foi uma tentativa de governar sem oposição, uma vez que o Congresso também está desmoralizado por sucessivos escândalos.
A crise se dá porque existe um partido que pretende dar um "by pass" na democracia. E isso precisa ser denunciado e evidenciado. O PT acha que o Congresso atrapalha, que a oposição atrapalha. É sua vocação totalitária ganhando dimensão prática. O partido inaugurou o presente eterno na política. Age como se não tivesse passado, história. Aliás, faz o mesmo com terceiros. Veja só: transformou-se ou numa máquina de emporcalhar reputações ou numa lavanderia de biografias. É o caso de Sarney, tornado um herói da resistência por Lula e seus homens da mala preta. Já FHC, um democrata, é transformado no grande satã.
E os escândalos? São resultado da impunidade?
É um quadro desolador, que vai minando a confiança nas instituições brasileiras. Por que existem os escândalos? Porque o PT precisa deles. Não é que precise deles para governar. Precisa para executar o seu projeto. Ora, se eles querem transformar o Congresso numa casa irrelevante, qual é o caminho mais curto? Fechá-lo. Ocorre que Lula ainda não é ditador. Então, não pode fazê-lo. Se não pode cercar com tanques o Legislativo, então o PT manda comprar. O escândalo do mensalão é isto: uma tentativa de eliminar um dos Poderes da República.
O terceiro Poder, que é o Judiciário, como vimos, já está politizado o bastante, sob os auspícios e o estímulo do Poder Executivo. Não custa lembrar que, até outro dia, o Supremo Tribunal Federal era presidido por um então declarado candidato a vice-presidente de Lula. A operação não saiu exatamente como eles queriam. Mas Nelson Jobim, que é de quem estamos falando, confirmada a reeleição de Lula, é candidato a suceder Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. É vergonhoso.
Defina o PT e seu papel nesta crise.
Acho que já o caracterizei até aqui. O PT é um partido de esquerda e, pois, autoritário. Esquerda democrática é uma ficção inventada por alguns espertinhos para pegar trouxa. Qual é a essência de um partido de esquerda? Achar que tem a chave do futuro e que todos aqueles que se opõem a seu projeto são passadistas, reacionários, descartáveis, não entendem o sentido da evolução da história e da humanidade. Isso não sou eu que digo. É teoria política escrita.
Gramsci, o teórico comunista italiano, num estudo que fez sobre Maquiavel, que está em "Cadernos do Cárcere", dizia que o príncipe atual, o "Moderno Príncipe", não é um homem, é o partido. O PT é gramsciano. Ele se quer este ente de razão que tudo pode, tudo sabe e tudo coordena. Gramsci dizia que o Moderno Príncipe haveria de subverter todos os princípios. E que tudo na sociedade se faria contra ou a favor o partido, de sorte que ele fosse um novo imperativo categórico.
De certo modo, estamos experimentando isso. A política brasileira passou a ter um único eixo: o PT. Há lideranças regionais aqui e ali, mas são marginais. As únicas forças que ainda resistem, e mal, porque fazem má política, são o PSDB e o PFL. Mas os dois partidos têm o terrível vício de subestimar o PT. O PFL porque não tem a devida unidade e ainda tem muitos caciques regionais. O PSDB por conta de uma certa soberba intelectual.
Então acontece o quê? O PT vai falando sozinho e ditando o ritmo e o rumo dos acontecimentos, embora tenha feito o governo mais corrupto de que se tem notícia. Quando se fala isso, eles perguntam: "qual o critério de comparação?" Qualquer um que se queira: quantidade de escândalos, valor envolvido nas tramóias e comprometimento das instituições com a lambança.
O PT tentou comprar uma fatia do Congresso. Isso não é pouca coisa. Comprar mesmo, com grana. Nem era aquela prática antiga, de trocar cargo por apoio. Isso é mais ou menos corriqueiro nas democracias do mundo. Pode-se fazê-lo com ou sem acordos programáticos, de princípio. Mesmo que seja um mero arranjo de circunstância, não se trata de um crime. Já pagar um deputado ou um senador em dinheiro vivo para obter apoio ou vantagem é crime. E muito grave.
E o governo Lula? Defina-o.
É um governo extravagante na teoria e incompetente na prática. O governo Lula conseguiu juntar o autoritarismo da esquerda com ortodoxia econômica sem imaginação. E deu nessa porcaria que aí está. Mesmo com a economia mundial vivendo um ciclo único no pós-guerra, de estabilidade duradoura, o País terá um crescimento médio, ao longo de quatro anos, de uns 2,8%, talvez menos. Com FHC, ao longo de oito, crescemos 2,33%, a despeito de sete crises, cinco delas com potencial para derrubar governos. Cadê o Lula virtuoso?
Não obstante, o País continua pagando juros reais escandalosos. Os juros reais nos EUA ou na União Européia não chegam a 1%. Aqui, chegam a quase 11%. É um escândalo. Em 2002, o País exportava a metade, o risco soberano era oito vezes maior, tínhamos problema de liquidez externa, e os juros reais eram de 11,2%.
Como pode isso? Pode! Lula amarrou-se ao setor financeiro, prometeu ser fiel a seus princípios e, com isso, conseguiu o apoio de partidos conservadores, de alguns usurpadores do liberalismo. O liberalismo brasileiro foi seqüestrado pelo financismo. É um governo conduzido por idiotas de esquerda, apoiados por idiotas de direita. Tanto uns quanto os outros estão atrás de benefícios por desapego a seus respectivos princípios. Uns querem poder, sempre mais, e outros, ganhar dinheiro. Uns rifam a sua ideologia para ter apoio dos antigos inimigos, e os antigos inimigos chamam de pragmatismo o que não passa de uma mera operação financeira.
Por que não apoiar Lula? Os títulos da dívida pública na sua mão rendem uma enormidade.
Esse mesmo governo que condena o País ao baixo crescimento e, portanto, à reprodução do ciclo da miséria, é o que transformou os programas assistencialistas que já havia numa monumental máquina eleitoral. Basta olhar a distribuição dos votos de Lula. Ele só ganha em dois cortes: Nordeste e entre os que têm rendimento de até dois salários mínimos. Quer dizer que é um governo dos pobres? Não! É um governo do "pobrismo", que é coisa bem diferente. Lula está cevando alguns milhões de cativos, que ficarão dependentes dos programas erroneamente chamados de "distribuição de renda". Não se distribui nada. Veja o que aconteceu com os salários médios no Brasil ao longo desses quatro anos. Foram achatados. Numa economia que cresce pouco, a classe média paga o pato, ameaçada pelo desemprego e pela substituição da mão-de-obra por quem ganha menos.
O que se chama de diminuição da desigualdade no Brasil é o empobrecimento da classe média, que perdeu qualquer chance de fazer uma poupança mínima ou de planejar o seu futuro. E o governo pega parte do que arrecada com sua carga tributária estúpida e converte em doação, sem contrapartida, aos muito pobres, em troca da fidelidade eleitoral. Quem está com fome quer comida? Quer. Mas há modos e modos de fazê-lo. Lula está transformando as potencialidades futuras do Brasil em consumo presente - se me permitem, o futuro do Brasil está virando cocô. Se esses pobres estivessem sendo capacitados para andar pelas próprias pernas, vá lá. Mas continuarão a compor a romaria de famélicos do ministro Patrus Ananias.
O Congresso naturalmente foi afetado, o que vem por aí?
Tivemos a pior legislatura da história, e, potencialmente, o que vem por aí não é muito melhor do ponto de vista da qualidade dos representantes. Há algumas leis moralizadoras, é verdade, como a que coíbe pagamento de extras na convocação extraordinária, a que institui o voto aberto para cassações - atenção: sou favorável ao voto aberto só nesse caso; nos demais, seria jogar o Legislativo no colo do Executivo. Uma reforma política que instituísse a fidelidade partidária e o voto distrital misto contribuiria para melhorar o Congresso. Mas que se destaque: o Executivo é muito forte no Brasil. Se ele se mostrar disposto a comprar, sempre vai haver alguém disposto a vender.
O presidente da OAB, Roberto Busato, diz que falta ética no Brasil. Falta?
Não é só ele que diz, não é? As pessoas falam em ética sem conceituá-la. O que é ética? É um conjunto de valores que diz respeito a uma coletividade, que é partilhado por um conjunto de pessoas, à diferença da moral, que é individual. Cada indivíduo tem a sua moralidade. Ora, é claro que os valores coletivos, que organizam a vida social e política, estão em crise no Brasil.
E se trata de uma crise particularmente grave porque liderada pelo partido que se dizia a encarnação da ética na política. Sempre que alguém vem com esse papo pra cima de mim, dou um jeito de escapar. "Ética na política" quer dizer exatamente o quê? Quem estabeleceu o tal valor como norma, como diretriz? A ética do PT não me interessa. Mas é a que eles têm a oferecer. Quando Marilena Chauí ou Wanderley Guilherme dos Santos deliram afirmando que há uma tentativa de golpe no Brasil, estão tentando nos impor a sua "ética". Eles querem dizer o seguinte: tudo o que não serve ao poder petista é potencial e realmente ruim; é contrário à ética.
Temos uma crise de valores. Ela é ética? Acho que sim. Mas de qual ética estamos falando? Aquela que, entendo, deve servir a um Estado liberal e democrático. O petismo, por exemplo, não vive crise ética nenhuma. Eles são assim mesmo.
Dá para alertar a sociedade para que não fiquemos chocados depois?
Muito simples. Votar sempre contra o PT e seus aliados, objetivos ou subjetivos.
Quais medidas deveriam ser postas em prática para coibir esse estado de coisas?
Reforma política: fidelidade partidária, voto distrital misto, fim das emendas individuais ao Orçamento; reforma administrativa: redução drástica dos cargos de confiança; fim da estabilidade do funcionalismo;reforma econômica: privatização de todas - note bem e escreva em caixa alta: DE TODAS - as estatais. Elas são a verdadeira fonte da corrupção no País; instituição do pregão eletrônico para compras do governo.
Como destrinchar as relações PT e o presidente Lula?
Não há o que destrinchar. Eles são uma coisa só. O fato de o eleitorado de Lula ser maior do que o do PT não quer dizer nada. Ele não existe sem o partido e vice-versa. É uma tolice imaginar que Lula é um ingênuo assombrado por bolcheviques meio malucos. Lula é profundamente ignorante, mas é de uma inteligência política rara. Ele é o representante do Foro de São Paulo, de que é fundador, no Brasil. É um líder da esquerda atrasada latino-americana, hábil o bastante pra se fingir de democrata. E o PT é seu instrumento.
Como o senhor define esse "dossiêgate" e seus atores?
Já defini. Foi uma tentativa de dar um golpe nas eleições.
E a Polícia Federal como um dos carros-chefe do marketing lulista? Como explicar isso?
Você usou a palavra certa. A parte da PF que Márcio Thomaz Bastos comanda se especializou em ameaçar donos de cervejaria e donas de butique. Foi uma forma de dizer que os ricos também arcam com o peso da lei no País. Houve arbitrariedade naquele espetáculo todo que foi promovido para encantar a mídia. Era coisa séria? Se fosse, Bastos teria ele mesmo divulgado as imagens da dinheirama do caso do dossiê fajuto. Não teria de ser furado por um jornal, como foi. O ministro da Justiça pôs uma instituição do Estado a serviço de um projeto político.
sábado, outubro 7
Vale a pena ver de novo
Haverá segundo turno?
Ainda sobre as pesquisas eleitorais
Sebastião Nery
Tribuna da Imprensa
Quanto está custando o rodízio das pesquisas na desavergonhada churrascaria eleitoral? O país tem quatro grandes e prestigiados institutos de pesquisas. A TV Globo negociou o Datafolha e o Ibope. A Confederação Nacional da Indústria também contratou o Ibope. A Bandeirantes ficou com o Vox Populi. E a Confederação Nacional dos Transportes com o Sensus.
Mesmo que eles fizessem pesquisas para Bento XVI no Vaticano, sob ameaça de excomunhão, não resistiriam ao rodízio da carne, do poder, do governo, do dinheiro, dos banqueiros. Há seis meses, de três em três dias, duas vezes por semana, todos os jornais de televisão, sobretudo os monopolistas "Jornal Nacional" e "Jornal da Globo", anunciam o rodízio de "nova pesquisa".
Como Lula está há quatro anos, toda noite, invariavelmente, fazendo comício no "Jornal Nacional" e no "Jornal da Globo", era inevitável que saísse na frente. E há seis meses todos os jornais de TV anunciam que "se as eleições fossem hoje, Lula ganharia no primeiro turno". É um massacre.
Já estamos no segundo turno. E já estão começando com essa maluquice de "se a eleição fosse hoje" de novo.
Ainda sobre as pesquisas eleitorais
Sebastião Nery
Tribuna da Imprensa
Quanto está custando o rodízio das pesquisas na desavergonhada churrascaria eleitoral? O país tem quatro grandes e prestigiados institutos de pesquisas. A TV Globo negociou o Datafolha e o Ibope. A Confederação Nacional da Indústria também contratou o Ibope. A Bandeirantes ficou com o Vox Populi. E a Confederação Nacional dos Transportes com o Sensus.
Mesmo que eles fizessem pesquisas para Bento XVI no Vaticano, sob ameaça de excomunhão, não resistiriam ao rodízio da carne, do poder, do governo, do dinheiro, dos banqueiros. Há seis meses, de três em três dias, duas vezes por semana, todos os jornais de televisão, sobretudo os monopolistas "Jornal Nacional" e "Jornal da Globo", anunciam o rodízio de "nova pesquisa".
Como Lula está há quatro anos, toda noite, invariavelmente, fazendo comício no "Jornal Nacional" e no "Jornal da Globo", era inevitável que saísse na frente. E há seis meses todos os jornais de TV anunciam que "se as eleições fossem hoje, Lula ganharia no primeiro turno". É um massacre.
Já estamos no segundo turno. E já estão começando com essa maluquice de "se a eleição fosse hoje" de novo.
terça-feira, outubro 3
PT de ressaca
Jaques Wagner defende expulsão de petistas envolvidos com dossiêgate
O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), defendeu hoje a expulsão dos militantes do PT envolvidos com o dossiêgate. Após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, Wagner classificou a tentativa de petistas de comprar um dossiê para incriminar políticos tucanos como "uma coisa medíocre, uma operação tabajara", mas indicou que as punições só serão decididas depois do segundo turno das eleições.
"As pessoas vão ter o direito de se defender. Entendo que aqueles que saíram fora de um código de procedimento de conduta [do PT] não têm porque se manter dentro do partido. Sinto muito! O partido vai crescendo e essas são dores do crescimento: a perda de alguns que não estão contribuindo para fortalecer o que é mais caro ao PT. E aí não adianta: não tem meia verdade. Ou se trabalha por um padrão de comportamento ou se sai dele", afirmou.
Mas é claro que é tudo para eleitor do PT ver (inglês não quer ver isso). Eles ficam por ali como quem não quer nada e têm direito até a dar pitaco nas decisões do partido. Dizem que é o que o Dirceu faz, e o Genoíno, que agora é efetivo de novo. Também o Palocci. E até o Duda Mendonça é habitué da casa.
O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), defendeu hoje a expulsão dos militantes do PT envolvidos com o dossiêgate. Após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, Wagner classificou a tentativa de petistas de comprar um dossiê para incriminar políticos tucanos como "uma coisa medíocre, uma operação tabajara", mas indicou que as punições só serão decididas depois do segundo turno das eleições.
"As pessoas vão ter o direito de se defender. Entendo que aqueles que saíram fora de um código de procedimento de conduta [do PT] não têm porque se manter dentro do partido. Sinto muito! O partido vai crescendo e essas são dores do crescimento: a perda de alguns que não estão contribuindo para fortalecer o que é mais caro ao PT. E aí não adianta: não tem meia verdade. Ou se trabalha por um padrão de comportamento ou se sai dele", afirmou.
Mas é claro que é tudo para eleitor do PT ver (inglês não quer ver isso). Eles ficam por ali como quem não quer nada e têm direito até a dar pitaco nas decisões do partido. Dizem que é o que o Dirceu faz, e o Genoíno, que agora é efetivo de novo. Também o Palocci. E até o Duda Mendonça é habitué da casa.
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